terça-feira, 6 de setembro de 2011

Platão e a política
Conforme já estudamos, Platão foi um discípulo de Sócrates e ambos eram cidadãos de Atenas. Enquanto cidadãos atenienses, o que se esperava dos dois é que participassem ativamente do governo da cidade, ou seja, uma de suas atribuições era a participação na política. Mas lembre-se de que foi essa mesma Assembléia, da qual eles faziam parte ,que condenou Sócrates à morte, depois de ele ter sido acusado de negar os deuses e corromper a juventude com seus ensinamentos. À época da morte de Sócrates, em 399 a.C., Platão contava com 29 anos de idade e era um dos principais seguidores das idéias defendidas por seu mestre.
O julgamento de Sócrates (descrito por Platão em seu livro A apologia de Sócrates) e sua posterior condenação marcaram profundamente o pensamento de Platão acerca da política. Ele passou a desacreditar da democracia. Mas, é claro, não foi esse o único fator que fundamentou a filosofia política platônica. Na verdade, o pensamento político de Platão é um desdobramento de sua teoria do conhecimento.
Você deve se lembrar de que Platão faz distinção entre o mundo sensível, percebido pelos sentidos, e o mundo inteligível, percebido pelas idéias – e, por isso, também chamado de mundo das idéias. A bem da verdade, essa distinção se processa no próprio ser humano, sendo o corpo o responsável pelo mundo sensível, enquanto a alma é a responsável pelo mundo das idéias. E não se esqueça de que para esse filósofo ateniense, fundador da Academia, o verdadeiro conhecimento sobre as coisas só pode ser alcançado no mundo das idéias, enquanto, no mundo sensível, o máximo que podemos apreender são as imagens distorcidas das coisas (lembra as sombras na caverna?) Há uma coisa a ser esclarecida. A idéia de alma para Platão nada tem a ver com espiritualidade, religião. Trata-se, na verdade, da razão humana.
Em seu diálogo chamado A República, Platão descreve o Mito da Caverna, por meio do qual ele exemplifica a distinção que faz entre os dois mundos. Nessa mesma obra, ele escreve algumas de suas principais concepções sobre política. Vejamo-las, então.


Perceba que Platão identifica no ser humano três tipos de alma (racional, irascível e concupiscente) e cada uma delas corresponde a uma parte do corpo. As três almas são importantes, assim como as três partes do corpo que formam o todo. Entretanto, o ser humano não deve ser dominado pelas almas irascível e concupiscente, ou seja, ele não pode ser movido apenas pela “força-violência” ou pela “paixão-desejo”. Essas duas almas devem estar sob o controleda razão, a mais nobre das três, porque é a única capaz de manter o bom funcionamento do todo (imagine se fôssemos guiados apenas por nossos sentimentos e desejos).
Com relação a uma cidade, segundo Platão, o funcionamento não pode ser diferente. Na cidade, os equivalentes às três almas humanas são a classe dos dirigentes (racional), a classe dos militares (irascível) e a classe dos produtores (concupiscente). Essa é a divisão da “cidade ideal” pensada e defendida por Platão. Nela, o governo não pode estar nas
mãos de todos, porque as pessoas devem ser separadas de acordo com as suas funções na sociedade. O comando deve estar nas mãos daqueles que estão mais próximos da razão. Associando com o Mito da Caverna, a idéia é a de que o governante só pode ser aquele que consegue abandonar o mundo das sombras e chegar à luz verdadeira, ou seja,
abandonar o mundo sensível e abraçar o mundo inteligível. Em outras palavras, o governante deve ser um filósofo.


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