segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Leitura Complementar
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Muitas pessoas têm hobbies diferentes. Algumas colecionam moedas e selos antigos, outras gostam de trabalhos manuais, outras ainda dedicam todo o seu tempo livre a uma determinada modalidade de esporte.
Também há os que gostam de ler. Mas os tipos de leitura também são muito diferentes. Alguns leem apenas jornais ou gibis, outros gostam de romances, outros ainda preferem livros sobre temas diversos como astronomia, a vida dos animais ou as novas descobertas da tecnologia.
Se me interesso por cavalos ou pedras preciosas, não posso querer que todos os outros tenham o mesmo interesse. Se fico grudado na televisão assistindo a todas as transmissões de esporte, tenho que aceitar que outras pessoas achem o esporte uma chatice.
Mas será que existe alguma coisa que interessa a todos? Será que existe alguma coisa que concerne a todos, não importando quem são ou onde se encontram? Sim, querida Sofia, existem questões que deveriam interessar a todas as pessoas. E é sobre tais questões que trata este curso.
Qual é a coisa mais importante da vida? Se fazemos esta pergunta a uma pessoa de um país assolado pela fome, a resposta será: a comida. Se fazemos a mesma pergunta a quem está morrendo de frio, então a resposta será: o calor. E quando perguntamos a alguém que se sente sozinho e isolado, então certamente a resposta será: a companhia de outras pessoas.
Mas, uma vez satisfeitas todas essas necessidades, será que ainda resta alguma coisa de que todo mundo precise? Os filósofos acham que sim. Eles acham que o ser humano não vive apenas de pão. É claro que todo mundo precisacomer.

E precisa também de amor e de cuidado. Mas ainda há uma coisa de que todos nós precisamos. Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos.
Portanto, interessar-se em saber por que vivemos não é um interesse “casual” como colecionar selos, por exemplo. Quem se interessa por tais questões toca em um problema que vem sendo discutido pelo homem praticamente desde quando passamos a habitar este planeta. A questão de saber como surgiu o universo, a Terra e a vida por aqui é uma questão maior e mais importante do que saber quem ganhou mais medalhas de ouro nos últimos Jogos Olímpicos.
O melhor meio de se aproximar da filosofia é fazer perguntas filosóficas:

Como o mundo foi criado? Será que existe uma vontade ou um sentido por detrás do que ocorre? Há vida depois da morte? Como podemos responder a estas perguntas? E, principalmente: como devemos viver?

Essas perguntas têm sido feitas pelas pessoas de todas as épocas. Não conhecemos nenhuma cultura que não se tenha perguntado quem é o ser humano e de onde veio o mundo.
Basicamente, não há muitas perguntas filosóficas para se fazer. Já fizemos algumas das mais importantes. Mas a história nos mostra diferentes respostas para cada uma dessas perguntas que estamos fazendo.

É mais fácil, portanto, fazer perguntas filosóficas do que respondê-las.

Da mesma forma, hoje em dia cada um de nós deve encontrar a sua resposta para estas perguntas. Não dá para procurar numa enciclopédia se existe um Deus, ou se há vida após a morte. A enciclopédia também não nos diz como devemos viver. Mas a leitura do que outras pessoas pensaram pode nos ser útil quando precisamos construir nossa própria imagem do mundo e da vida.
A busca dos filósofos pela verdade pode ser comparada com uma história policial. (...) Um crime na vida real pode chegar a ser desvendado pela polícia um dia. Mas também podemos imaginar que a polícia nunca consiga solucionar determinado caso, embora a solução para ele esteja em algum lugar.
Mesmo que seja difícil responder a uma pergunta, isto não significa que ela não tenha uma – e só uma – resposta certa. Ou há algum tipo de vida depois da morte, ou não.
Muitos dos antigos enigmas foram resolvidos pela ciência ao longo dos anos. Antigamente, um grande enigma era saber como era o lado escuro da Lua. Não era possível chegar a uma resposta apenas através de discussão; a resposta ficava para a imaginação de cada um. Hoje, porém, sabemos exatamente como é o lado escuro da Lua. Não dá mais para “acreditar” que há um homem morando na Lua, nem que ela é um grande queijo, todo cheio de buracos.
Um dos grandes filósofos gregos, que viveu há mais de dois mil anos, acreditava que a filosofia era fruto da capacidade do homem de se admirar com as coisas. Ele achava que para o homem a vida é algo tão singular que as perguntas filosóficas surgem como que espontaneamente. É como o que ocorre quando assistimos a um truque de mágica: não conseguimos entender como é possível acontecer aquilo que estamos vendo diante de nossos olhos. E então, depois de assistirmos à apresentação, nos perguntamos: como é que o mágico conseguiu transformar dois lenços de seda brancos num coelhinho vivo?
Para muitas pessoas, o mundo é tão incompreensível quanto o coelhinho que um mágico tira de uma cartola que, há poucos instantes, estava vazia.
No caso do coelhinho, sabemos perfeitamente que o mágico nos iludiu. Quando falamos sobre o mundo, as coisas são um pouco diferentes. Sabemos que o mundo não é mentira ou ilusão, pois estamos vivendo nele, somos parte dele. No fundo, somos o coelhinho branco que é tirado da cartola. A única diferença entre nós e o coelhinho branco é que o coelhinho não sabe que está participando de um truque de mágica. Conosco é diferente. Sabemos que estamos fazendo parte de algo misterioso e gostaríamos de poder explicar como tudo funciona.
PS. Quanto ao coelhinho branco, talvez seja melhor compará-lo com todo o universo. Nós, que vivemos aqui, somos os bichinhos microscópicos que vivem na base dos pelos do coelho. Mas os filósofos tentam subir da base para a ponta dos finos pelos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico.
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GAARDER, J. O mundo de Sofia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005, p. 24-26

1° grupo Pensar e conhecer


A capacidade de pensar

O ser humano é o único animal do planeta capaz de pensar sobre o mundo que o cerca. E é claro que isso não é pouco! Você já pensou na importância de poder pensar? Foi a capacidade de pensar, interligada a outros atributos específicos da nossa espécie, que nos possibilitou sermos o que hoje somos! Em outras palavras: a evolução da espécie humana está totalmente ligada à sua capacidade de pensar, pois foi assim que o homem criou mecanismos de sobrevivência e adaptação ao meio no qual ele vivia, conseguindo fazer uma coisa que nenhum outro animal foi capaz de fazer: interferir sobre a natureza e adequá-la às suas necessidades. Perceba a importância do pensamento!

A atividade de pensar, ou seja, a capacidade de refletir sobre as coisas que nos cercam, é aquilo que chamamos de razão. Quem nunca ouviu a expressão: “o homem é um animal racional”? E é aqui que entra a filosofia. Refletir sobre o sentido da vida, os seus valores e como viver de forma feliz e correta, entre outras coisas, é o ofício da filosofia. Veja que “filosofar” e “pensar” são duas atividades inseparáveis. Entretanto, a prática filosófica busca conhecer e compreender o mundo que nos cerca; isso implica um pensamento organizado e voltado para o conhecimento. Portanto, nem sempre quando pensamos sobre alguma coisa estamos necessariamente filosofando. Não é tão simples assim. Para filosofar, é preciso ter interesse em conhecer

Aliás, conhecer sempre foi mais uma necessidade do que um desafio para o homem. Desde o início das primeiras civilizações humanas, somos obrigados a superar o desconhecimento por meio de uma série de maneiras, como a observação, por exemplo. Ao observar os pássaros bicando frutos, o homem descobria alimento sem correr o risco de morrer envenenado. Sendo assim, podemos definir o ato de conhecer como relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido, como também o resultado desse ato.

As formas de conhecimento

Mas será que o conhecimento obtido pela prática filosófica é a única forma de se conhecer as coisas? A resposta é não. Existem outras maneiras de se conhecer o mundo que nos cerca. Vejamos algumas delas, além da filosófica.

O conhecimento mitológico: foi a primeira tentativa de explicação do mundo feita pelo homem, ainda que de uma maneira fantasiosa. Os mitos são carregados de imaginação e crença, o que nos leva a concluir que não passam por uma sistematização do conhecimento. A questão da crença, inclusive, aproxima o mito da religião. O mito é uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo. Trata-se de uma maneira de a sociedade explicar os fenômenos que a cercam, assim como uma tentativa de explicar a si próprio. A filosofia surgiu na Grécia como um esforço de superar o conhecimento mítico.

O conhecimento filosófico: trata-se de um tipo de conhecimento essencialmente teórico adquirido por quem o pratica por meio de uma exaustiva reflexão crítica acerca da realidade, da ação humana e dos seus valores. O filósofo não se contenta em “contar uma história” sobre as origens do mundo e do ser humano; ao contrário, busca entender e explicar racionalmente essas origens, através da sistematização do pensamento. Este raciocínio está ligado a um encadeamento lógico que visa a não cair em contradições. É a razão tentando buscar a realidade e a verdade das coisas.

O conhecimento científico: desenvolvido a partir do conhecimento filosófico, é uma forma de conhecimento elaborada através de métodos rigorosos de investigação, entre eles a utilização da experiência, que busca obter leis de explicação racional e de validade universal para os fenômenos analisados.

O conhecimento pela arte: toda obra de arte expressa uma visão de mundo, pois representa a maneira pela qual seu autor percebe a realidade que o cerca, entre outras coisas. Portanto, quando nos deparamos com uma obra de arte e buscamos interpretá-la, estamos adquirindo um tipo de conhecimento que tem relação com nosso interior, ou seja, com nossa subjetividade. Contudo, esse tipo de conhecimento é tão complexo quanto o filosófico e o científico, pois requer sensibilidade e proximidade com a história da arte.

O conhecimento pelo senso comum: trata-se de um conhecimento espontâneo resultante das experiências vivenciadas pelos seres humanos no cotidiano da sua existência, isto é, no seu dia a dia. Por não ser um conhecimento adquirido de maneira mais sistematizada, um dos grandes problemas que podem ser gerados pelo senso comum é o preconceito em geral. Não respeitar as minorias e desprezar uma pessoa pela cor da sua pele, por exemplo, são resultados do desconhecimento e da falta de informação mais elaborada. Já o chamado bom senso, que é mais estruturado e crítico, pode ser considerado uma primeira superação do senso comum.

Algumas das áreas de atuação da filosofia são a epistemologia (que trata sobre o “conhecimento”), a ética (que trata da origem e da natureza dos “valores da vida e da felicidade”), a estética (responsável pelo conceito de “beleza” e da natureza e pela função da “arte”), a política (que reflete sobre o “poder” e o “Estado”) e a lógica (que estuda como obter a exatidão do “raciocínio”).







A filosofia e as suas origens no Ocidente

Ter o prazer em conhecer: essa é uma atitude filosófica! A filosofia é de fundamental importância na formação do ser humano crítico e responsável que, acima de tudo, tem o interesse em conhecer o mundo que o cerca. Mas o que é o conhecimento? Quais são as maneiras pelas quais podemos obtê-lo, além da filosofia? E, afinal de contas, quando, onde e como surgiu o conhecimento filosófico? A seguir, tentaremos encontrar respostas a essas indagações. Bons estudos!