terça-feira, 6 de setembro de 2011

Observe que, segundo Platão, cada grupo social deve se dedicar somente à sua função e virtude específi cas, pois é apenas quando isso acontece que a harmonia e a felicidade imperam sobre a sociedade. Mesmo se tratando de um modelo utópico* de cidade, é importante percebermos a preocupação de Platão com a justiça, isto é, com um valor ético
imprescindível para a existência de qualquer sociedade. E a justiça, aqui, deve ser entendida em duas situações: a primeira manifestada no equilíbrio entre os três grupos sociais
(cada um cumprindo sua parte), e a segunda manifestada no reconhecimento de que apenas aqueles que alcançam o pleno conhecimento são capazes de conhecer a essência da justiça e, por isso, podem governar.

*Utópico: referente à utopia. “Etimologicamente, utopia
signifi ca ‘lugar nenhum‘, o ideal de uma sociedade perfeita
em que não haja injustiça“.
ARANHA e MARTINS. Temas de Filosofi a.
São Paulo: Moderna, 2005. p. 308

Não podemos estranhar que alguns fi lósofos considerema filosofia política de Platão como um incentivo a governos totalitários ou fechados em torno de poucas pessoas. Contudo, é fundamental entendermos o pensamento político platônico em seu contexto de desenvolvimento, e não com a visão de mundo que temos hoje. Ao longo de sua vida, Platão alterou alguns aspectos do seu modelo político, mas sempre manteve a idéia de que a razão é que deveria governar, sendo a única capaz de proporcionar aos cidadãos a justiça e a felicidade.

Platão e a educação

O sistema político defendido por Platão está associado
a um plano de educação institucionalizada, bastante inte-
ressante. Essa educação deveria ser dada pelo Estado, asse
gurando ao cidadão a sua formação na respectiva virtude, garantindo, assim, a sua felicidade.
Até os 20 anos de idade, todas as pessoas da cidade deveriam receber uma educação comum e obrigatória. Nesse primeiro momento, a finalidade seria a de formar cidadãos que respeitassem as instituições e dedicados à realização de suas funções específicas. Entre outras matérias, fariam parte dessa etapa da educação a música – cuja função seria a de permitir o controle do homem sobre as partesfeinferiores da alma – e a ginástica (esta para o desenvolvimento do corpo).
Em uma segunda fase, o cidadão receberia uma educação destinada aos futuros governantes, que se realizaria entre os 20 e os 35 anos. Somente os mais aptos ao conhecimento seguiriam esta segunda fase. Nela, a educação constaria de uma primeira etapa com o aprendizado da matemática, seguida de uma segunda na qual se tomaria contato com o conhecimento das “idéias superiores”, ou seja, da própria filosofia.

Aristóteles e a política

Quando estudamos a ética aristotélica, vimos como o filósofo estagirita defendia a busca à felicidade pelo homem enquanto um bem supremo, sendo isso a causa final de todo e qualquer ser humano. Uma vez feita essa retomada, podemos, então, partir para a visão de Aristóteles sobre a política.
A concepção aristotélica de ética aplicada ao ser humano, quando levada à esfera do social, ou seja, do coletivo, desemboca na concepção que esse filósofo desenvolveu sobre a política. Em outras palavras: se, individualmente, a figura humana tende à busca pela felicidade, em grupo essa tendência deverá ser a mesma. Isso implica pensar que um governo correto e justo é aquele que se paute pela busca da felicidade comum. Portanto, esse é o papel da política!
Portanto, de acordo com Aristóteles, a política é um desdobramento natural da ética. Se a ética trata da feinferiores licidade individual do homem, a política, por sua vez, deve tratar da felicidade coletiva da pólis. Sendo assim, cabe à política a tarefa de determinar quais são as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do Estado.
Em sua obra Política, Aristóteles escreveu: Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas, e que inclui todas as outras, tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política (1252a).
Segundo Aristóteles, a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum é superior ao bem particular. Logo, o Estado é a instituição por meio da qual se efetua a satisfação de todas as necessidades humanas, pois o homem é um animal social, político.
A visão prática de Aristóteles sobre a política é contrária à “cidade utópica” de Platão – lembre-se de que Platão defendia que apenas os filósofos deveriam governar a pólis. A política aristotélica incentiva maior participação de todos os cidadãos nas decisões, uma vez que visa à felicidade comum, que é a finalidade última do ser humano. Para que o governo da pólis não se degenere, e, portanto, para que o bem (felicidade) comum seja plenamente atingido, é imprescindível a participação dos cidadãos na vigília do Estado. Para Aristóteles, participar da política não é uma atividade restrita à participação no governo da pólis.
Quanto às formas de governo, Aristóteles distingue três principais:

Aristóteles tendia para uma forma de governo democrático-intelectual, a exemplo da democracia ateniense – que, à sua época, já estava em decadência. No entanto, o estagirita reconhece que a melhor forma de governo não pode ser utópica, mas, sim, concreta. Ela deve ser acomodada às situações históricas, ou seja, às circunstâncias de um determinado povo, mas sem perder seu foco principal: o fim da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem particular de quem governa despoticamente.
A política grega é normativa, por estabelecer normas de ação para o governante virtuoso, e prescritiva, por indicar caminhos para distinguir entre o bom governo e a política corrompida.
Segundo essa concepção, é estreita a ligação entre ética e política, porque o regime justo depende do bom governante: o êxito na política decorre da virtude de quem governa.
ARANHA e MARTINS. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 2005. p. 301.

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