sexta-feira, 27 de maio de 2011

A questão do conhecimento nos séculos XIX e XX Neste capítulo, veremos duas correntes filosóficas que se opuseram ao essencialismo característico da F

O materialismo histórico

Karl Marx: primeiras considerações

Karl Marx nasceu em Trier (Alemanha), no ano de 1818. De origem judia, seu pai converteu-se ao luteranismo por causa do antissemitismo crescente na época. O jovem Marx, contudo, não manteve sua religiosidade por muito tempo. Estudou Direito na Universidade de Bonn e de Berlim e doutorou-se na Universidade de Iena, em 1841, com uma tese sobre a filosofia da natureza, de Demócrito e de Epicuro.

Após uma fracassada experiência editorial na Alemanha, Marx estabeleceu-se na França até 1845, quando foi expulso por causa de suas atividades políticas vinculadas ao nascente e crescente movimento socialista.

O pensador alemão passou então a viver em Londres, onde permaneceu até sua morte, em 1883.

Entre as principais obras de Marx estão A ideologia alemã, O manifesto do partido comunista (essas duas escritas em parceria com Friedrich Engels), A miséria da Filosofia, O dezoito brumário de Luis Bonaparte, Contribuição à crítica da economia política e O capital.

As ideias desse pensador foram responsáveis por um amplo movimento que ficou conhecido como marxismo. Este movimento se manifestou tanto de maneira prática como teórica. Na prática, foi fundamental para a ocorrência de revoluções socialistas. No aspecto teórico, sua influência foi de tal maneira que diversas áreas do conhecimento acadêmico, como a História, a Economia, a Política, a Sociologia, a Antropologia e, certamente, a filosofia, estão marcadas até hoje pelas ideias desse intelectual.

A Filosofia como ação transformadora

A filosofia de Marx é conhecida como materialismo histórico ou materialismo dialético. A força desse pensamento reside na combinação de três grandes correntes intelectuais da época: a filosofia alemã, a economia política inglesa e a teoria política francesa. Da filosofia alemã, Marx parte do idealismo de Hegel, de quem também extrai a dialética; contudo, Marx rompe com Hegel, afirmando que ele teria enxergado a realidade de cabeça para baixo, ou seja, de maneira invertida.

O materialismo de Marx se fundamenta no princípio de que a realidade não é algo imutável, mas sim um processo histórico permanente, que obedece a uma lei baseada no fato de que o processo histórico está acima da vontade dos indivíduos e é determinado pelas condições materiais; daí sua filosofia ser conhecida como materialismo histórico.

É nesse sentido que Marx também rompe com o “idealismo hegeliano”. No lugar do “idealismo dialético” de Hegel, ele emprega o materialismo histórico dialético. Para compreender o homem em suas relações com outros homens e com o mundo, é preciso partir da análise do concreto, ou seja, das ações humanas concretas, e não das ideias que os homens fazem a respeito de si. No Prefácio da contribuição para a crítica da economia política, Marx escreveu: “Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência.”

Com esse pensador, a questão da ideologia tomou ares críticos e passou também a ser aceita por vários filósofos após Marx. E olha que nem todos concordavam inteiramente com a sua filosofia! Mas a sua formulação de ideologia é realmente bastante elucidativa. De uma maneira bastante geral, podemos afirmar que a ideologia é um conjunto de ideias, de pensamentos e de representações que os seres humano produzem sobre a realidade com a qual convivem. Essas ideias são utilizadas no dia a dia para orientar as discussões, que podem, por exemplo, ser políticas, ou de qualquer outra natureza.

A crítica de Marx é sobre a concepção dessa ideologia, ou seja, como ela surge. Contrariando a filosofia existente até então, Marx afirma que a ideologia é um reflexo das relações materiais que os homens estabelecem para sobreviver e que, portanto, ela não está acima da humanidade. A ideologia não pode ser tomada como algo metafísico, ao contrário, ela deve ser tomada como resultado dos esforços concretos, materiais, que a humanidade realiza para a sua reprodução. A ideia não antecede o homem, mas é sua criação.

As ideologias servem como orientação para os mais variados modos de se viver e, quando são apropriadas indevidamente por alguns grupos específicos (e isso ocorre com frequência), acabam se tornando modos de dominação. Segundo Marx, esse é o maior problema das ideologias generalizantes.

Marx tem uma outra concepção de Filosofia, qual seja, a de que ela deve possuir o caráter da transformação, da prática; trata-se da filosofia da práxis, isto é, a filosofia como ação transformadora. No livro A ideologia alemã, ele e Engels escreveram: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa é transformá-lo.”

Partindo da preocupação com as bases materiais de produção através das quais os seres humanos se relacionam e constroem-se, Marx enxerga o processo histórico como uma luta de classes sociais entre a classe dominante, que detém os meios de produção, e a classe dominada, que possui a força de trabalho. Essa luta de classes sociais se configura em modos de produção situados historicamente. Assim, temos os modos de produção asiático, escravista, feudal e capitalista. Todos possuem forças produtivas que se refletem nas relações sociais de produção, em que a exploração da força de trabalho é uma constante. Voltaremos a essas e outras questões do marxismo em Sociologia. Por enquanto, basta percebermos que, com Marx, a Filosofia ganha outros ares investigativos e outras preocupações.

Quando o teórico elabora sua teoria, (...) [ele] julga estar produzindo ideias verdadeiras que nada devem à existência histórica e social do pensador. Até pelo contrário, o pensador julga que com essas ideias poderá explicar a própria sociedade em que vive. Um dos traços fundamentais da ideologia consiste, justamente, em tomar as ideias como independentes da realidade histórica e social, de modo a fazer com que tais ideias expliquem aquela realidade, quando na verdade é essa realidade que torna compreensíveis as ideias elaboradas.

CHAUI, M. O que é ideologia. 38. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 10-11. (Coleção “Primeiros Passos”)

Nenhum comentário:

Postar um comentário